Quase no final do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, é útil regressar aos fundamentos, à razão de ser, ao ‘porquê’ e ‘para quê’ de uma causa que nunca se esgotará.
A afirmação da igualdade de oportunidades não resulta senão da assunção clara e inequívoca da igual dignidade de todos os seres humanos. É aqui que tudo radica: nada nos distingue na plenitude da nossa dignidade. Cada pessoa é uma obra única, uma sinfonia perfeita, uma pérola irrepetível. Para lá de qualquer aparência, de diferença formal ou de origem distinta, cada pessoa é uma humanidade individual, no dizer de Mia Couto. Essa visão humanista coloca obrigatoriamente a Pessoa no centro das políticas e reconhece-a como princípio e fim de tudo. E sendo séria esta opção, deve ter consequências. A todos nós é exigido o esforço, quer numa expressão individual, quer na esfera colectiva, de fazer respeitar a dignidade humana, de todos e de cada um dos que nos rodeiam. E esse respeito passa obrigatoriamente pela criação de iguais oportunidades para todos.
Não podemos pactuar com campos inclinados, em que para uns o jogo é sempre feito contra a gravidade enquanto para outros se desenrola com a inclinação do campo a seu favor. Não podemos aceitar que na corrida da vida, na linha de partida, uns tenham tudo para vencer e outros mal consigam dar os primeiros passos. Conviver pacificamente com esta realidade injusta como de um fado inevitável se tratasse é ignorar o respeito pela dignidade humana. É desistir de parte da Humanidade.
Precisamos, por isso, de garantir a igualdade de oportunidades, para que cada homem e cada mulher possam ser verdadeiramente livres. E, assim, um ser único e diferente. Para que o seu destino seja fruto da sua vontade, do seu trabalho e das suas escolhas e não se encontre previamente escrito pelo contexto em que nasce. A liberdade e autodeterminação de cada pessoa deverão, assim, ser os únicos factores diferenciadores no trajecto de uma vida.
Sabemos ser esta uma utopia antiga. Sempre presente e sempre inatingível. Mas como avançaria o Mundo sem a ousadia de querer evoluir em direcção à perfeição dos ideais? Renovamos, hoje e sempre, a certeza de que só vale a pena viver em busca de um mundo mais justo, com lugar para todos, no respeito pela sua liberdade e na inclusão das suas diferenças. Na certeza absoluta da inviolabilidade da dignidade humana e na convicção de que esta só é respeitada se a todos forem concedidas oportunidades iguais.
04 dezembro 2007
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