O trágico acidente da semana passada, junto ao Terreiro do Paço, em Lisboa, em que morreram atropeladas duas mulheres e uma terceira ficou gravemente ferida, desocultou realidades que só longinquamente vamos percepcionando.
Filipa Lopes Semedo, de 57 anos, uma das vítimas mortais, imigrante são-tomense, mãe de 10 filhos, havia saído da sua casa, do outro lado do rio, às 4h.30m. da madrugada, para apanhar o primeiro barco que todas as manhãs atravessa o Tejo, trazendo os primeiros trabalhadores para a cidade. Com ela, viajavam outras mulheres africanas, de S. Tomé e Cabo-Verde, que vêm cuidar das limpezas dos muitos escritórios de Lisboa. Todas as vítimas atingidas por esta tragédia, tinham esse elo de união: vinham trabalhar, ainda não tinha o dia despertado, para as limpezas dos nossos escritórios.
Com efeito, nós que começamos o dia mais tarde, e que às quatro e meia da manhã ainda estamos no nosso descanso, não temos consciência da dureza de algumas vidas, em busca de pão para a família. Entre os muitos - portugueses e imigrantes - que são heróicos protagonistas destas vidas difíceis, devemos hoje particularmente uma homenagem à coragem destas mães africanas.
Agarrando com as duas mãos, qualquer emprego que lhes surja, ainda que não difira muito do circuito das limpezas ou da venda de peixe, estas mulheres, muitas delas também mães, enfrentam com uma coragem extraordinária o seu quotidiano. Rodeadas de obstáculos hostis, procuram – normalmente sozinhas - educar os seus filhos o melhor que podem, ainda que quase tudo se volte contra elas. Basta imaginar o que sentirá uma mãe ao ter que deixar, todos os dias, os seus filhos pequenos entregues a si próprios, ou a irmãos um pouco mais velhos, porque à hora que sai de sua casa não há creches abertas onde os possam deixar. E, quantas vezes, só regressam a casa depois do turno da tarde de limpezas, o que equivale a ver os filhos só à hora de jantar. São crianças que crescem sozinhas, na rua, como preço dos nossos escritórios limpos antes das 8 da manhã e depois da seis da tarde.
Mas Filipa não morreu sozinha naquela manhã. Ao seu lado, ficou Neuza, na juventude dos seus 18 anos, que atravessava a passadeira com a sua mãe, naquele momento fatídico.
A história da mãe de Neuza é a de muitas mães-coragem que emigrando, deixam os seus filhos no país de origem, à guarda da avó ou de algum familiar, sempre no sonho de um dia os poderem recuperar para junto de si. Juntam dinheiro, a partir de um magro salário, para conseguirem esse momento mágico de voltarem a juntar a família. Tinha sido essa a experiência da mãe de Neuza. Demorara quatro anos a juntar dinheiro para a passagem de avião da sua filha. Tinha conseguido trazê-la há seis meses para junto de si. Percebe-se, por isso, que após o atropelamento e apesar do seu estado muito grave, só gritasse o nome da sua filha. Nunca irá compreender porque morreu a sua filha Neuza, naquela manhã. Ainda haverá coragem que resista a mais esta provação?
12 novembro 2007
01 novembro 2007
Reciprocidade
Há um quase automatismo nas relações humanas. A máxima “olho por olho, dente por dente”, mais do que uma receita para resposta a qualquer provocação, ou medida da pena para qualquer crime, é a descrição do impulso inato na natureza humana. Tendemos a responder da mesma moeda, a não nos deixarmos ficar. Como dizem os nossos amigos brasileiros, não somos de “levar desaforo para casa”. Agimos como se fossemos um espelho. Com uma pequena diferença. Se possível, respondemos com um pouco mais de intensidade em relação à ofensa que nos foi feita. É superior às nossas forças. E quando essa reciprocidade entra em ciclo vicioso, numa espiral de vingança que se perpetua no tempo, atravessando mesmo gerações, torna-se devastadora. Esta é a plataforma de onde humanamente partimos, se deixarmos correr os instintos.
Este traço da nossa maneira de ser, desperta duas reflexões. A primeira, decorre do efeito de se contrariar conscientemente o princípio da reciprocidade, quando este alimenta a espiral da vingança e da violência. Só se interrompe verdadeiramente esse ciclo quando alguém é suficientemente forte e corajoso para não agir com reciprocidade, ou dito de outra maneira, quando é capaz de perdoar. Por isso, quebrar a reciprocidade da agressão é a uma única forma de construir a paz.
Mas há uma outra consequência do princípio da reciprocidade nas relações humanas. Se tivermos a ousadia e o bem-senso de explorar este efeito para o bem, seremos agradavelmente surpreendidos. Da mesma maneira que maldade produz maldade, a bondade gera bondade. Basta começar a experimentar. O trânsito é um excelente laboratório. Por uma vez, não faça da estrada um terreno de combate, onde não pode deixar-se “comer por parvo”. Descontraia-se. Experimente, em vez de praguejar, esboçar um sorriso, e veja o que acontece. Em vez de se esforçar por não deixar um centímetro em relação ao carro da frente, para que ninguém entre na fila, experimente abrir espaço para quem está a tentar entrar. Num cruzamento, deixe passar, em vez de forçar a passagem e quando se verificar a fusão de duas filas numa só, aceite o principio da entrada intercalada de um carro de cada fila. É tão mais simples. E, finalmente, quando alguém tiver um gesto simpático consigo, agradeça...e veja o efeito. Em 95% dos casos sentirá os efeitos positivos da reciprocidade do bem.
Quando somos capazes de iniciar, ou reforçar, algo de bom, o efeito da reciprocidade amplia o gesto e contagia outros, que provavelmente irão continuar a cadeia para além do encontro consigo. E mesmo aqueles que o achem “anjinho” por estes gestos, ficarão a pensar neles. Um dia, também eles descobrirão que este é o caminho certo.
Sendo verdade que uma borboleta batendo as asas em Tóquio desperta uma tempestade no Ocidente, talvez não seja menos verdade que de pequenos gestos bons, graças ao efeito da reciprocidade, se poderá melhor um pouco o mundo em que vivemos. Podemos começar pelo trânsito.
Este traço da nossa maneira de ser, desperta duas reflexões. A primeira, decorre do efeito de se contrariar conscientemente o princípio da reciprocidade, quando este alimenta a espiral da vingança e da violência. Só se interrompe verdadeiramente esse ciclo quando alguém é suficientemente forte e corajoso para não agir com reciprocidade, ou dito de outra maneira, quando é capaz de perdoar. Por isso, quebrar a reciprocidade da agressão é a uma única forma de construir a paz.
Mas há uma outra consequência do princípio da reciprocidade nas relações humanas. Se tivermos a ousadia e o bem-senso de explorar este efeito para o bem, seremos agradavelmente surpreendidos. Da mesma maneira que maldade produz maldade, a bondade gera bondade. Basta começar a experimentar. O trânsito é um excelente laboratório. Por uma vez, não faça da estrada um terreno de combate, onde não pode deixar-se “comer por parvo”. Descontraia-se. Experimente, em vez de praguejar, esboçar um sorriso, e veja o que acontece. Em vez de se esforçar por não deixar um centímetro em relação ao carro da frente, para que ninguém entre na fila, experimente abrir espaço para quem está a tentar entrar. Num cruzamento, deixe passar, em vez de forçar a passagem e quando se verificar a fusão de duas filas numa só, aceite o principio da entrada intercalada de um carro de cada fila. É tão mais simples. E, finalmente, quando alguém tiver um gesto simpático consigo, agradeça...e veja o efeito. Em 95% dos casos sentirá os efeitos positivos da reciprocidade do bem.
Quando somos capazes de iniciar, ou reforçar, algo de bom, o efeito da reciprocidade amplia o gesto e contagia outros, que provavelmente irão continuar a cadeia para além do encontro consigo. E mesmo aqueles que o achem “anjinho” por estes gestos, ficarão a pensar neles. Um dia, também eles descobrirão que este é o caminho certo.
Sendo verdade que uma borboleta batendo as asas em Tóquio desperta uma tempestade no Ocidente, talvez não seja menos verdade que de pequenos gestos bons, graças ao efeito da reciprocidade, se poderá melhor um pouco o mundo em que vivemos. Podemos começar pelo trânsito.
Puritanismo
Não há nada mais irritante que o puritanismo. Quase sempre se evidencia como expressão hipócrita de quem exige aos outros aquilo que não faz, ou, na versão evangélica, que vê poeiras nos olhos dos outros, ignorando traves nos seus. Cuidando das aparências, vivendo mais de palavras do que de (bons) exemplos, os seus cultores cumprem um certo papel policial na nossa sociedade. Encontramo-los nos mais inesperados locais, sobre novos temas e, atrevo-me a dizer que, se procurarmos bem, encontraremos - infelizmente - alguns traços deste puritanismo em cada um de nós.
Uma destas evidências do puritanismo os nossos tempos é exercido relativamente aos políticos. Alvos da nossa desconfiança militante, deles exigimos comportamentos tão irrepreensíveis e tão exemplares que nem os santos caberiam nessa nossa grelha de exigência. Várias figuras notáveis da sociedade portuguesa, que poderiam dar um excelente contributo ao bem comum, através da política, quando a isso são instadas pensam duas vezes. E por causa deste puritanismo, dizem que não. Se assim continuarmos os que serão elegíveis para funções públicas contar-se-ão pelos dedos de uma mão. E talvez nem sejam precisos os dedos todos...
É bom lembrar que como herança negra da cultura do jornal O Independente, ficou em alguns media portugueses – e em todos nós, como seus consumidores – uma permanente tentação puritana de escrutínio. Ministros caíram, por exemplo, por haver dúvidas se haviam cumprido rigorosamente todas as suas obrigações fiscais. Gostamos de ter uma ASAE dos políticos, em que os principais fiscais são alguns jornalistas. Mas é isso honesto? Todos nós cumprimos rigorosamente as nossas obrigações fiscais? Pedimos sempre factura quando fazemos uma obra em casa, pagando o devido IVA? Declaramos tudo o que temos a declarar?
Esta tendência puritana, que não é exclusivo nacional, tem vindo a alargar-se nos âmbitos que alcança. Já não é só os impostos, mas também a carreira académica, as relações pessoais ou os interesses de cada um. Por exemplo, aceitaríamos divulgar publicamente cada ano, os nossos rendimentos, o saldo da nossa conta bancária, os imóveis, acções ou viaturas que possuímos? Não? Ora, exigimos isso, por lei, aos nossos políticos. Note-se que esta declaração fica disponível não só para o Tribunal Constitucional, como qualquer cidadão pode consultar, divulgar e opinar sobre essa declaração de rendimentos. Já vimos artigos de jornais elaborando, a partir dos dados dessas declarações, sobre a inteligência dos investimentos em bolsa de cada ministro. É isto razoável?
Note-se, como é óbvio, que não se advoga a fuga aos impostos ou o não cumprimento das leis. Ninguém está acima da lei. Todos somos chamados a respeitar as nossas obrigações. Sejamos cidadãos comuns, políticos, empresários ou jornalistas...Deixemo-nos pois destes puritanismos e sejamos exigentes, desde logo, connosco próprios.
Uma destas evidências do puritanismo os nossos tempos é exercido relativamente aos políticos. Alvos da nossa desconfiança militante, deles exigimos comportamentos tão irrepreensíveis e tão exemplares que nem os santos caberiam nessa nossa grelha de exigência. Várias figuras notáveis da sociedade portuguesa, que poderiam dar um excelente contributo ao bem comum, através da política, quando a isso são instadas pensam duas vezes. E por causa deste puritanismo, dizem que não. Se assim continuarmos os que serão elegíveis para funções públicas contar-se-ão pelos dedos de uma mão. E talvez nem sejam precisos os dedos todos...
É bom lembrar que como herança negra da cultura do jornal O Independente, ficou em alguns media portugueses – e em todos nós, como seus consumidores – uma permanente tentação puritana de escrutínio. Ministros caíram, por exemplo, por haver dúvidas se haviam cumprido rigorosamente todas as suas obrigações fiscais. Gostamos de ter uma ASAE dos políticos, em que os principais fiscais são alguns jornalistas. Mas é isso honesto? Todos nós cumprimos rigorosamente as nossas obrigações fiscais? Pedimos sempre factura quando fazemos uma obra em casa, pagando o devido IVA? Declaramos tudo o que temos a declarar?
Esta tendência puritana, que não é exclusivo nacional, tem vindo a alargar-se nos âmbitos que alcança. Já não é só os impostos, mas também a carreira académica, as relações pessoais ou os interesses de cada um. Por exemplo, aceitaríamos divulgar publicamente cada ano, os nossos rendimentos, o saldo da nossa conta bancária, os imóveis, acções ou viaturas que possuímos? Não? Ora, exigimos isso, por lei, aos nossos políticos. Note-se que esta declaração fica disponível não só para o Tribunal Constitucional, como qualquer cidadão pode consultar, divulgar e opinar sobre essa declaração de rendimentos. Já vimos artigos de jornais elaborando, a partir dos dados dessas declarações, sobre a inteligência dos investimentos em bolsa de cada ministro. É isto razoável?
Note-se, como é óbvio, que não se advoga a fuga aos impostos ou o não cumprimento das leis. Ninguém está acima da lei. Todos somos chamados a respeitar as nossas obrigações. Sejamos cidadãos comuns, políticos, empresários ou jornalistas...Deixemo-nos pois destes puritanismos e sejamos exigentes, desde logo, connosco próprios.
"Somos todos judeus"
Domingo, fim de tarde. Depois de uma cerimónia simples, mas cheia de significado, o presidente da comunidade islâmica, Abdool Vakil, cumprimentava solidariamente o líder da comunidade judaica de Lisboa, José Oulman Carp. Antes, tinha sido o representante do Patriarcado de Lisboa, P. Peter Stilwell, a repudiar firmemente as manifestações de ódio anti-semita. Eram gestos fraternos, que se multiplicavam no cemitério judaico de Lisboa, onde, uma semana antes, várias campas tinham sido vandalizadas com suásticas nazis.
“Somos todos Judeus”, disse-se. As palavras e as orações judaicas congregaram à sua volta, não só representantes do Estado, mas também das principais comunidades religiosas portuguesas. Ninguém ficou indiferente, perante gestos ignóbeis inspirados por ideologias sinistras.
Nunca é de mais reafirmar o repúdio e a condenação por todos os gestos que violam o respeito pela dignidade humana. A longa história secular do anti-semitismo, que fez milhões de vítimas no último milénio, está cheia de gestos hostis como estes. Mesmo que isolados, ainda que sem vítimas, não é possível deixá-los passar em claro. Sem não perder a noção das proporções relativas – actualmente, em Portugal, o anti-semitismo não tem expressão quantitativa significativa - torna-se essencial condenar em absoluto um só gesto anti-semita que se verifique. Tal como um qualquer gesto racista.
Mas não chega ficar por aí. É fundamental, nestas ocasiões, demonstrar solidariedade para com as vítimas. Vem à memória o notável gesto do rei da Dinamarca, aquando da ocupação nazi e da tentativa de identificação de judeus para deportação, que passou a usar a estrela de David, como se fosse judeu. Foi seguido por centenas de milhares dos seus súbditos e os nazis falharam redondamente o seu objectivo. Por isso, a cerimónia do passado Domingo foi tão importante. Ao ter visto nessa ocasião, cristãos, muçulmanos, hindus ou ateus, juntos, ao lado dos judeus, tornou-se presente essa solidariedade.
Depois de tudo isto, falta ainda um compromisso para o futuro. Cada um de nós, como cidadão, tem a responsabilidade de, dia-a-dia, dar um contributo para a construção de uma sociedade tolerante, onde ninguém possa ser perseguido pela sua religião ou etnia. Depende de nós, sobretudo através da educação das novas gerações, que se cultive o respeito pela diversidade religiosa e cultural para que não se repitam os erros do passado. Para isso, importa revisitar a História e conhecer as tragédias que o racismo e o anti-semitismo, ou por outro lado, o nazismo, o comunismo ou o maoísmo, provocaram. De igual forma, com idêntica relevância, é fundamental a aprendizagem sobre outras culturas e outras religiões, ganhando-se afecto pela riqueza que nos proporcionam. Assim se anulará o ambiente, marcado pela ignorância, pelos estereótipos e pelos preconceitos, em que todos os radicalismos progridem.
“Somos todos Judeus”, disse-se. As palavras e as orações judaicas congregaram à sua volta, não só representantes do Estado, mas também das principais comunidades religiosas portuguesas. Ninguém ficou indiferente, perante gestos ignóbeis inspirados por ideologias sinistras.
Nunca é de mais reafirmar o repúdio e a condenação por todos os gestos que violam o respeito pela dignidade humana. A longa história secular do anti-semitismo, que fez milhões de vítimas no último milénio, está cheia de gestos hostis como estes. Mesmo que isolados, ainda que sem vítimas, não é possível deixá-los passar em claro. Sem não perder a noção das proporções relativas – actualmente, em Portugal, o anti-semitismo não tem expressão quantitativa significativa - torna-se essencial condenar em absoluto um só gesto anti-semita que se verifique. Tal como um qualquer gesto racista.
Mas não chega ficar por aí. É fundamental, nestas ocasiões, demonstrar solidariedade para com as vítimas. Vem à memória o notável gesto do rei da Dinamarca, aquando da ocupação nazi e da tentativa de identificação de judeus para deportação, que passou a usar a estrela de David, como se fosse judeu. Foi seguido por centenas de milhares dos seus súbditos e os nazis falharam redondamente o seu objectivo. Por isso, a cerimónia do passado Domingo foi tão importante. Ao ter visto nessa ocasião, cristãos, muçulmanos, hindus ou ateus, juntos, ao lado dos judeus, tornou-se presente essa solidariedade.
Depois de tudo isto, falta ainda um compromisso para o futuro. Cada um de nós, como cidadão, tem a responsabilidade de, dia-a-dia, dar um contributo para a construção de uma sociedade tolerante, onde ninguém possa ser perseguido pela sua religião ou etnia. Depende de nós, sobretudo através da educação das novas gerações, que se cultive o respeito pela diversidade religiosa e cultural para que não se repitam os erros do passado. Para isso, importa revisitar a História e conhecer as tragédias que o racismo e o anti-semitismo, ou por outro lado, o nazismo, o comunismo ou o maoísmo, provocaram. De igual forma, com idêntica relevância, é fundamental a aprendizagem sobre outras culturas e outras religiões, ganhando-se afecto pela riqueza que nos proporcionam. Assim se anulará o ambiente, marcado pela ignorância, pelos estereótipos e pelos preconceitos, em que todos os radicalismos progridem.
Sempre mais alto!
Numa odisseia sem fim, João Garcia tem vindo a conquistar os picos mais altos do mundo. Agora, num ciclo entre montanhas acima dos 8.000 metros de altitude, o nosso alpinista-mor continua o seu caminho. Tem já oito “troféus” e quer chegar ao restrito grupo de 14 pessoas que conseguiram vencer os 14 cumes montanhosos mais imponentes. Neste roteiro, em Julho passado, chegou ao pico da segunda montanha mais alta do mundo, a K2, com 8.611 metros de altitude, na fronteira entre a China e o Paquistão. A última etapa durou 15 horas, sem o auxilio de oxigénio artificial e enfrentando uma morfologia do terreno muito hostil. Mas venceu-a.
A entrar nos quarenta anos, este português notável diverte-se a procurar ultrapassar-se todos os dias. Quem já o viu e ouviu, por exemplo em entrevistas na televisão, ficou, por certo, impressionado com a sua calma e serenidade. É como se não fosse nada. Mas chegar onde nunca tinha ido, transformar obstáculos em vitórias, tornar possível o impossível são alguns dos seus desígnios. Ele é a expressão vivida de um “sempre mais alto”.
É bom, no entanto, recordar que nesta carreira notável de João Garcia nem tudo tem sido rosas. Numa das escaladas, quando conquistou o Everest (8.848 m), viu a sua vida em perigo, perdeu as pontas dos dedos e do nariz e o seu companheiro de escalada, Pascal Debrouwer, morreu na descida.
Muitos de nós interrogar-nos-emos sobre o sentido de vencer montanhas. Que acrescenta isso ao mundo? Os mais materialistas, de pés bem assentes na terra, perguntarão porquê gastar tempo e dinheiro com isto. Os mais medrosos, desdenharão da sua coragem, como é típico. Todos, pensaremos se é justo arriscar a vida nestas escaladas.
Independentemente das respostas que cada um, na sua circunstância, encontre, é óbvio que João Garcia devia ser uma referência nacional. Como ele, todos nós, temos as nossas montanhas para vencer e riscos próprios para correr. Á nossa escala, no nosso quotidiano, muitos são os obstáculos com que nos deparamos. Alguns, por mais impossível que pareça, são tão agrestes como os picos do Everest. Perante eles, precisamos de encontrar coragem para não lhes virar as costas e determinação para os vencer. Competir connosco próprios para alcançar os mais altos cumes deveria ser a nossa ambição. Por isso, como Garcia, precisamos ambicionar ir sempre mais alto, numa espiral de aperfeiçoamento, em busca dos objectivos que traçámos para a nossa vida. E perante as inevitáveis derrotas e humilhações, precisamos estar decididos a recomeçar. De novo, com a mesma fé da primeira vez e com a sabedoria do que já aprendemos no amargo das derrotas. Dessa forma, transformaremos as cicatrizes em alavanca para a vitória certa que nos espera. E, um dia, quando a etapa final chegar, que nos encontre a lutar para chegar sempre mais alto.
A entrar nos quarenta anos, este português notável diverte-se a procurar ultrapassar-se todos os dias. Quem já o viu e ouviu, por exemplo em entrevistas na televisão, ficou, por certo, impressionado com a sua calma e serenidade. É como se não fosse nada. Mas chegar onde nunca tinha ido, transformar obstáculos em vitórias, tornar possível o impossível são alguns dos seus desígnios. Ele é a expressão vivida de um “sempre mais alto”.
É bom, no entanto, recordar que nesta carreira notável de João Garcia nem tudo tem sido rosas. Numa das escaladas, quando conquistou o Everest (8.848 m), viu a sua vida em perigo, perdeu as pontas dos dedos e do nariz e o seu companheiro de escalada, Pascal Debrouwer, morreu na descida.
Muitos de nós interrogar-nos-emos sobre o sentido de vencer montanhas. Que acrescenta isso ao mundo? Os mais materialistas, de pés bem assentes na terra, perguntarão porquê gastar tempo e dinheiro com isto. Os mais medrosos, desdenharão da sua coragem, como é típico. Todos, pensaremos se é justo arriscar a vida nestas escaladas.
Independentemente das respostas que cada um, na sua circunstância, encontre, é óbvio que João Garcia devia ser uma referência nacional. Como ele, todos nós, temos as nossas montanhas para vencer e riscos próprios para correr. Á nossa escala, no nosso quotidiano, muitos são os obstáculos com que nos deparamos. Alguns, por mais impossível que pareça, são tão agrestes como os picos do Everest. Perante eles, precisamos de encontrar coragem para não lhes virar as costas e determinação para os vencer. Competir connosco próprios para alcançar os mais altos cumes deveria ser a nossa ambição. Por isso, como Garcia, precisamos ambicionar ir sempre mais alto, numa espiral de aperfeiçoamento, em busca dos objectivos que traçámos para a nossa vida. E perante as inevitáveis derrotas e humilhações, precisamos estar decididos a recomeçar. De novo, com a mesma fé da primeira vez e com a sabedoria do que já aprendemos no amargo das derrotas. Dessa forma, transformaremos as cicatrizes em alavanca para a vitória certa que nos espera. E, um dia, quando a etapa final chegar, que nos encontre a lutar para chegar sempre mais alto.
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