01 novembro 2007

"Somos todos judeus"

Domingo, fim de tarde. Depois de uma cerimónia simples, mas cheia de significado, o presidente da comunidade islâmica, Abdool Vakil, cumprimentava solidariamente o líder da comunidade judaica de Lisboa, José Oulman Carp. Antes, tinha sido o representante do Patriarcado de Lisboa, P. Peter Stilwell, a repudiar firmemente as manifestações de ódio anti-semita. Eram gestos fraternos, que se multiplicavam no cemitério judaico de Lisboa, onde, uma semana antes, várias campas tinham sido vandalizadas com suásticas nazis.

“Somos todos Judeus”, disse-se. As palavras e as orações judaicas congregaram à sua volta, não só representantes do Estado, mas também das principais comunidades religiosas portuguesas. Ninguém ficou indiferente, perante gestos ignóbeis inspirados por ideologias sinistras.

Nunca é de mais reafirmar o repúdio e a condenação por todos os gestos que violam o respeito pela dignidade humana. A longa história secular do anti-semitismo, que fez milhões de vítimas no último milénio, está cheia de gestos hostis como estes. Mesmo que isolados, ainda que sem vítimas, não é possível deixá-los passar em claro. Sem não perder a noção das proporções relativas – actualmente, em Portugal, o anti-semitismo não tem expressão quantitativa significativa - torna-se essencial condenar em absoluto um só gesto anti-semita que se verifique. Tal como um qualquer gesto racista.

Mas não chega ficar por aí. É fundamental, nestas ocasiões, demonstrar solidariedade para com as vítimas. Vem à memória o notável gesto do rei da Dinamarca, aquando da ocupação nazi e da tentativa de identificação de judeus para deportação, que passou a usar a estrela de David, como se fosse judeu. Foi seguido por centenas de milhares dos seus súbditos e os nazis falharam redondamente o seu objectivo. Por isso, a cerimónia do passado Domingo foi tão importante. Ao ter visto nessa ocasião, cristãos, muçulmanos, hindus ou ateus, juntos, ao lado dos judeus, tornou-se presente essa solidariedade.

Depois de tudo isto, falta ainda um compromisso para o futuro. Cada um de nós, como cidadão, tem a responsabilidade de, dia-a-dia, dar um contributo para a construção de uma sociedade tolerante, onde ninguém possa ser perseguido pela sua religião ou etnia. Depende de nós, sobretudo através da educação das novas gerações, que se cultive o respeito pela diversidade religiosa e cultural para que não se repitam os erros do passado. Para isso, importa revisitar a História e conhecer as tragédias que o racismo e o anti-semitismo, ou por outro lado, o nazismo, o comunismo ou o maoísmo, provocaram. De igual forma, com idêntica relevância, é fundamental a aprendizagem sobre outras culturas e outras religiões, ganhando-se afecto pela riqueza que nos proporcionam. Assim se anulará o ambiente, marcado pela ignorância, pelos estereótipos e pelos preconceitos, em que todos os radicalismos progridem.

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