Nos últimos seis meses, por duas vezes, fui à Urgência do Hospital D. Estefânia, em Lisboa, com as minhas filhas. E que encontrei? Um caos? Uma vergonha? Ora, importa relatar o que encontrei. Num País habituado a reparar sempre no que corre mal, no caso marcado pela incompetência, desleixo e falta de empenho, é essencial contar a experiência que vivi.
Nas duas vezes – estatisticamente relevante, para além da sorte ou do acaso - vi um serviço de Urgência a trabalhar com enorme qualidade e competência. Com organização e método, simpatia e dedicação, toda a equipa com que me cruzei, desde o pessoal administrativo, às médicas e enfermeiras, parecia sintonizado num padrão de qualidade que o nosso olhar pessimista não esperaria num Hospital português. A realidade é muito melhor que a nossa expectativa.
Apesar de não beneficiarem de um espaço moderno e confortável, pois o Hospital acusa já o peso da idade, aqueles profissionais dão o seu melhor, no contexto que têm. Por exemplo, nalguns gabinetes médicos, são obrigados a atenderem dois doentes em simultâneo. Mas até isso reflecte uma atitude centrada no utente, visando reduzir os tempos de espera, em desfavor do seu conforto do ambiente de trabalho. Nos pequenos detalhes também marcam pontos. A pensar nos utentes, as indicações nas paredes, com cores, orientam-nos até cada serviço e nas salas de espera da radiologia ou do laboratório de análises, as pinturas infantis aliviam a tensão de estar num hospital.
Quis trazer esta experiência de utente da urgência do D. Estefânia para sinalizar vários traços que deveriam ser inspiradores para enfrentarmos os desafios que temos pela frente.
O primeiro traço é elementar, mas sistematicamente maltratado: Nós somos capazes. Simplesmente isso. Somos capazes. De nos organizarmos, de sermos acolhedores nos serviços públicos, de nos centrarmos no utentes, de imaginar soluções para além do estabelecido. Os portugueses são tão competentes como os melhores. Na administração pública, como nas IPSS, ou nas empresas. Somos capazes.
O segundo traço passa por afirmar que podemos sempre fazer melhor com o que temos. Se temos um limão, façamos uma limonada, mas façamos. Não nos queixemos de não ter laranjas, para fazer laranjada. Mesmo dos recursos mais escassos é possível tirar mais valias e não ficar à espera das condições extraordinárias para fazer sempre melhor.
Terceira ideia: Todos somos importantes. Do segurança, ao funcionário administrativo, à médica, à senhora da limpeza... o sucesso das organizações depende de todas as suas parcelas cumprirem o seu papel. Ninguém está dispensado de fazer a sua parte.
Finalmente, todos nós precisamos de reeducar o nosso olhar. Precisamos de desocultar a realidade e ver o muito de bom que temos. Só assim ganharemos força para os desafios que nos faltam vencer.
23 março 2008
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