Saiu na passada segunda-feira um relatório da União Europeia sobre o risco de pobreza infantil que gerou justificadas preocupações. Ainda que se refira a dados de 2005 e que desde aí se tenham registado alguns progressos, o documento aponta para 24% de crianças expostas ao risco de pobreza. É um murro no estômago. Com agregados familiares marcados pelo desemprego e pela baixa escolaridade dos pais, muitas destas crianças parecem ter o destino traçado à nascença. A probabilidade de virem a perpetuar o ciclo da pobreza, dispondo de um (quase) grau zero de liberdade para uma vida diferente, é muito elevado. E a maior pobreza é nascer prisioneiro de uma sina.
Se algo caracteriza o melhor da natureza humana é a sua ânsia de liberdade e a sede de auto-determinação. Com efeito, o Homem nasceu para ser livre. Ao vivermos permanentemente em contexto de escolhas, é a capacidade de as fazer livre e responsavelmente que nos torna, em grande medida, senhores do nosso destino e, por isso, seres livres.
O problema é que, para aquelas crianças, as escolhas são reduzidas e predominantemente más. Por outro lado, não dispõem, muitas vezes, dos instrumentos necessários para fazer as escolhas certas. Ou ainda, estão marcados pelo círculo vicioso de escolhas erradas que outros já fizeram e das quais herdam uma pesada factura. É então que se abrem a portas a diferentes escravidões que matam a liberdade.
Com efeito, demasiadas crianças e inúmeros jovens vivem em contextos que lhes limitam as escolhas presentes e determinam prisões futuras: as crianças que vivem “fechadas na rua”; os que têm as suas famílias desestruturadas; as que vivem embebidas em violência; os que ficam fora da Escola cedo demais; as que nunca poderão começar a corrida em igualdade de circunstâncias... Que podem escolher estas crianças e jovens? Têm escolha possível?
Sublinhe-se, no entanto, que é para muitas destas crianças que vários protagonistas – Escolas, IPSS, Programa Escolhas, Programa Eliminação do Trabalho infantil... – vão dando o seu melhor, em prol da inclusão social e da construção de uma vida diferente. Nas suas múltiplas actividades, técnicos e instituições procuram aumentar os seus graus de liberdade, ajudando a alargar as escolhas possíveis. E é bom termos consciência que muito já se andou e melhorou, apesar dos imensos desafios que ainda temos pela frente. Mas há que continuar.
Devemos a estas crianças um futuro onde esteja ao seu alcance a possibilidade de escapar à pobreza onde nasceram. Só então, o seu futuro estará nas suas mãos e por ele serão responsáveis. Mas, antes...temos nós que cumprir a nossa responsabilidade.
23 março 2008
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