Sempre tive um fascínio muito especial por Cabo-Verde e pelo seu povo. Gente de uma terra pobre, sem recursos naturais e com escassez de água, tem sabido encontrar, através da sua fibra e carácter, a força para se desenvolver. Apostando forte no seu capital humano, mostra, dentro e fora de portas, que não há impossíveis para quem tem determinação e sabe para onde quer ir.
Neste sentido, Cabo-Verde viu, há algum tempo, ser reconhecida a evolução positiva da sua situação socio-económica, de tal modo que iniciou um período de transição, deixando o grupo dos países menos avançados para integrar o dos países de desenvolvimento médio. Por outro lado, em Abril passado, no relatório do Banco Mundial, eram elogiados os seus resultados na educação, com melhorias no sucesso escolar, sendo um dos três melhores países africanos nesse domínio.
Na semana passada, surgiram mais duas evidências impressionantes. Dois rankings internacionais colocam Cabo Verde em lugares invejáveis no contexto africano. Por um lado, entre 48 países africanos, surge como o 4º melhor exemplo de boa governação, tendo subido dois lugares e ultrapassado mesmo a África do Sul. Neste índice da Fundação Ibrahim, só é superado pelas Maurícias e Seychelles. Por outro lado, ao nível da corrupção, medida pelo relatório da Transparência Internacional, entre 180 países, fica em 49º lugar, sendo entre os países africanos o terceiro com menor corrupção, depois do Botswana e da África do Sul.
Estas avaliações internacionais são da maior importância e têm relevante significado. Sendo naturalmente correlacionadas, a boa governação e a baixa corrupção, constituem condições necessárias para o combate à pobreza e para o desenvolvimento. Sem elas, torna-se manifestamente impossível melhorar a vida das populações. Toda a riqueza que existe – em recursos naturais ou gerada a partir do trabalho – esvai-se sem efeito útil. Enriquecem alguns, mas o povo desespera. Ora, Cabo-Verde tem mostrado que é possível fazer diferente. E isso é uma boa notícia para todo o continente africano.
Mas esta evolução notável não está isenta de ameaças. Os riscos da contaminação pelo tráfico de droga e de armas e do crescimento descontrolado em torno de uma indústria do turismo em explosão, constituem aspectos a ter em atenção pelas autoridades cabo-verdianas para que não se perca o que tanto custou a alcançar.
Neste contexto, o apoio que Portugal pode e deve continuar a dar a Cabo-Verde, reforçando o que tem vindo a ser feito, faz todo o sentido. Para além do apoio bilateral, o nosso empenhamento para que as negociações de Cabo-Verde com a União Europeia para a consagração de um estatuto de parceiro privilegiado, deve constituir uma prioridade.
Cabo-Verde é uma razão de esperança na viabilidade do progresso da humanidade e na autodeterminação dos povos. Com inteligência e com esforço, pelo seu pé e sabendo aproveitar bem as ajudas recebidas, tem feito um caminho que a todos ensina. Em África e fora dela.
02 outubro 2007
O mercado e a Educação
Hoje é dia de heresia.
Apesar de ser bem conhecida a aversão do sistema educativo ao mercado e ao consumo, talvez houvesse algo a aprender com esse outro mundo. A atenção colocada no estudo do consumidor, dos seus gostos e dos seus comportamentos, precede quase sempre a acção de lançamento de um produto ou serviço para o mercado. Esta atenção centrada no cliente-consumidor foi simultaneamente causa e consequência de uma importante revolução na correlação de forças entre as partes. A diversidade de oferta, a concorrência, a necessidade de fidelizar clientes, o risco de ser penalizado quando se cometem erros, a urgência de permanentemente ouvir as sugestões, as críticas e as propostas dos consumidores fez com que os produtores de bens ou serviços deixassem de ser reis e senhores e se centrassem definitivamente nos clientes como caminho para o seu sucesso.
Esta comparação, que pode soar a heresia no contexto do sistema educativo, serve, neste caso, para sublinhar um dos mecanismos de funcionamento do mercado – o perceber muito bem o alvo da comunicação. O investimento realizado em estudos de mercado, observatórios e, mais recentemente, nos serviços de atendimento ao cliente, mostram quão importante é conhecer e compreender o cliente. E os resultados estão à vista.
Claro que a Educação não é igual à venda de sabonetes ou cereais. Todos sabemos disso. Nem se pode falar dos estudantes como de clientes, strictum sensu. No entanto, o que pode ser idêntico é a noção de que para comunicar com eficácia (e educar exige comunicar com a eficácia máxima) é indispensável compreender muito bem o nosso interlocutor. Isso obriga-nos a ir muito mais longe que o modelo educativo actual. Hoje, a Escola pede ao estudante que aprenda obedientemente o que se ensina, independentemente de se ensinar bem ou mal, ou mais grave ainda, se ensina o importante ou se se limita a acessórios. E como não cuida suficientemente de se avaliar a si própria, estranha o insucesso e simplifica a culpa, situando-a exclusivamente no aprendiz.
Essa opção radical de centragem no estudante não obriga, no entanto, a um atitude “seguidista” que torne o processo educativo refém de sondagens ou estudos de mercado. Há que saber situar esta atitude como ambiente indispensável para o sucesso do mecanismo interactivo do ensino/aprendizagem de saberes e competências essenciais.
Um pouco à semelhança de quando se encontra alguém de uma língua/cultura diferente, é importante fazer uma aprendizagem da língua (ou no mínimo, ter uma terceira língua comum) e dos costumes para poder comunicar plenamente. Isso pode ser essencial, para expressarmos adequadamente os nossos pensamentos/sentimentos de forma que, no outro contexto cultural, seja perceptível o que dizemos. Assim torna-se igualmente necessário, no processo educativo, que os seus principais actores (pais, professores e outros educadores) saibam aprender a “língua” e os costumes dos “estrangeiros” (não de outra terra, mas de outro tempo) que vivem nas nossas escolas.
Se o sistema educativo não tornar hábito estruturante o estudo e a compreensão dos seus estudantes, em cada segmento do tempo e do espaço, corre o risco de elevada taxa de ineficácia e concluir como frustrante a sua acção.
Apesar de ser bem conhecida a aversão do sistema educativo ao mercado e ao consumo, talvez houvesse algo a aprender com esse outro mundo. A atenção colocada no estudo do consumidor, dos seus gostos e dos seus comportamentos, precede quase sempre a acção de lançamento de um produto ou serviço para o mercado. Esta atenção centrada no cliente-consumidor foi simultaneamente causa e consequência de uma importante revolução na correlação de forças entre as partes. A diversidade de oferta, a concorrência, a necessidade de fidelizar clientes, o risco de ser penalizado quando se cometem erros, a urgência de permanentemente ouvir as sugestões, as críticas e as propostas dos consumidores fez com que os produtores de bens ou serviços deixassem de ser reis e senhores e se centrassem definitivamente nos clientes como caminho para o seu sucesso.
Esta comparação, que pode soar a heresia no contexto do sistema educativo, serve, neste caso, para sublinhar um dos mecanismos de funcionamento do mercado – o perceber muito bem o alvo da comunicação. O investimento realizado em estudos de mercado, observatórios e, mais recentemente, nos serviços de atendimento ao cliente, mostram quão importante é conhecer e compreender o cliente. E os resultados estão à vista.
Claro que a Educação não é igual à venda de sabonetes ou cereais. Todos sabemos disso. Nem se pode falar dos estudantes como de clientes, strictum sensu. No entanto, o que pode ser idêntico é a noção de que para comunicar com eficácia (e educar exige comunicar com a eficácia máxima) é indispensável compreender muito bem o nosso interlocutor. Isso obriga-nos a ir muito mais longe que o modelo educativo actual. Hoje, a Escola pede ao estudante que aprenda obedientemente o que se ensina, independentemente de se ensinar bem ou mal, ou mais grave ainda, se ensina o importante ou se se limita a acessórios. E como não cuida suficientemente de se avaliar a si própria, estranha o insucesso e simplifica a culpa, situando-a exclusivamente no aprendiz.
Essa opção radical de centragem no estudante não obriga, no entanto, a um atitude “seguidista” que torne o processo educativo refém de sondagens ou estudos de mercado. Há que saber situar esta atitude como ambiente indispensável para o sucesso do mecanismo interactivo do ensino/aprendizagem de saberes e competências essenciais.
Um pouco à semelhança de quando se encontra alguém de uma língua/cultura diferente, é importante fazer uma aprendizagem da língua (ou no mínimo, ter uma terceira língua comum) e dos costumes para poder comunicar plenamente. Isso pode ser essencial, para expressarmos adequadamente os nossos pensamentos/sentimentos de forma que, no outro contexto cultural, seja perceptível o que dizemos. Assim torna-se igualmente necessário, no processo educativo, que os seus principais actores (pais, professores e outros educadores) saibam aprender a “língua” e os costumes dos “estrangeiros” (não de outra terra, mas de outro tempo) que vivem nas nossas escolas.
Se o sistema educativo não tornar hábito estruturante o estudo e a compreensão dos seus estudantes, em cada segmento do tempo e do espaço, corre o risco de elevada taxa de ineficácia e concluir como frustrante a sua acção.
Com Scolari
Sete dias passados sobre a noite escura de Alvalade, pode ser que a poeira já tenha assentado e possamos voltar ao tema, com a serenidade e lucidez que faltaram nos últimos dias.
Recuperando o essencial da história, Portugal fez uma dupla jornada de futebol, com a Polónia e a Sérvia, que correu mal. De situação vitoriosa até cinco minutos do fim, consentimos, em cada jogo, um golo azarado que nos custou, no somatório, quatro pontos. No jogo de Alvalade, o cair do pano trouxe adicionalmente um episódio triste em que um jogador sérvio provocou e tentou agredir Luís Filipe Scolari – valendo-lhe um cartão vermelho do árbitro – e o técnico respondeu irreflectidamente com uma tentativa de agressão. No dia seguinte, o técnico da selecção portuguesa, em conferência de imprensa, pediu desculpa aos portugueses e à UEFA pela sua atitude. Estes são, sinteticamente, os factos.
Espantosamente, o resultado foi a crucifixão pública de Scolari, como bode expiatório da frustração nacional. Nem o pedido de desculpas foi suficiente. Extraordinário.. Ninguém poupou palavra duras, condenações veementes ou pedidos de demissão. Como se tudo o que Scolari já fez ao serviço da selecção fosse nada e se um erro fosse tudo. Que injustiça flagrante!
Somos uma gente muito curiosa. Noutros tempos, numa atitude automática, gritaríamos – com razão - contra o árbitro (golo em fora-de-jogo), lamentaríamos o azar de sofrer um golo estranho a quatro minutos do fim e estaríamos, primeiro que tudo, a condenar o jogador sérvio que iniciou o episódio e a defender o nosso técnico. Agora, a irracionalidade voltou-se contra os da casa.
Imagine-se, por um instante, que tínhamos tido um pouco menos de azar e os jogos tinham acabado com o resultado dos 80 minutos e que ninguém tinha perdido a cabeça. Nesta altura, estávamos apurados para o Europeu e a laurear o treinador que, mais uma vez, nos levava a uma grande competição internacional. O nosso herói!
Só que os heróis também erram. São humanos. Mas poucos, no entanto, o admitem e pedem desculpa. E essa foi a grandeza de Luís Filipe. Quantos dos nossos heróis públicos que cometeram erros foram capazes de, em menos de 24 horas, pedir desculpa? Alguns, hipocritamente, sublinharam que, ainda assim, Scolari não tinha pedido desculpa ao jogador. Mas, era expectável fazê-lo, unilateralmente, quando a agressão foi iniciada pelo sérvio? Honestamente: é assim que cada um nós faz, na sua vida? Bom era...
A quatro jogos decisivos para o apuramento para o Euro, em que todos seremos poucos para não falhar o objectivo, deixámos vir à superfície a nossa veia suicida que Unamuno falava. Neste caso, além da insensata tendência suicida, mostramos outro péssimo defeito: a ingratidão.
Por isso, hoje e ainda a tempo, importa dizer: Scolari, estamos contigo, nos bons e, sobretudo, nos maus momentos. Os erros reconhecidos e emendados só servem para aprender. Vamos em frente! Esperam-nos quatro vitórias...
Recuperando o essencial da história, Portugal fez uma dupla jornada de futebol, com a Polónia e a Sérvia, que correu mal. De situação vitoriosa até cinco minutos do fim, consentimos, em cada jogo, um golo azarado que nos custou, no somatório, quatro pontos. No jogo de Alvalade, o cair do pano trouxe adicionalmente um episódio triste em que um jogador sérvio provocou e tentou agredir Luís Filipe Scolari – valendo-lhe um cartão vermelho do árbitro – e o técnico respondeu irreflectidamente com uma tentativa de agressão. No dia seguinte, o técnico da selecção portuguesa, em conferência de imprensa, pediu desculpa aos portugueses e à UEFA pela sua atitude. Estes são, sinteticamente, os factos.
Espantosamente, o resultado foi a crucifixão pública de Scolari, como bode expiatório da frustração nacional. Nem o pedido de desculpas foi suficiente. Extraordinário.. Ninguém poupou palavra duras, condenações veementes ou pedidos de demissão. Como se tudo o que Scolari já fez ao serviço da selecção fosse nada e se um erro fosse tudo. Que injustiça flagrante!
Somos uma gente muito curiosa. Noutros tempos, numa atitude automática, gritaríamos – com razão - contra o árbitro (golo em fora-de-jogo), lamentaríamos o azar de sofrer um golo estranho a quatro minutos do fim e estaríamos, primeiro que tudo, a condenar o jogador sérvio que iniciou o episódio e a defender o nosso técnico. Agora, a irracionalidade voltou-se contra os da casa.
Imagine-se, por um instante, que tínhamos tido um pouco menos de azar e os jogos tinham acabado com o resultado dos 80 minutos e que ninguém tinha perdido a cabeça. Nesta altura, estávamos apurados para o Europeu e a laurear o treinador que, mais uma vez, nos levava a uma grande competição internacional. O nosso herói!
Só que os heróis também erram. São humanos. Mas poucos, no entanto, o admitem e pedem desculpa. E essa foi a grandeza de Luís Filipe. Quantos dos nossos heróis públicos que cometeram erros foram capazes de, em menos de 24 horas, pedir desculpa? Alguns, hipocritamente, sublinharam que, ainda assim, Scolari não tinha pedido desculpa ao jogador. Mas, era expectável fazê-lo, unilateralmente, quando a agressão foi iniciada pelo sérvio? Honestamente: é assim que cada um nós faz, na sua vida? Bom era...
A quatro jogos decisivos para o apuramento para o Euro, em que todos seremos poucos para não falhar o objectivo, deixámos vir à superfície a nossa veia suicida que Unamuno falava. Neste caso, além da insensata tendência suicida, mostramos outro péssimo defeito: a ingratidão.
Por isso, hoje e ainda a tempo, importa dizer: Scolari, estamos contigo, nos bons e, sobretudo, nos maus momentos. Os erros reconhecidos e emendados só servem para aprender. Vamos em frente! Esperam-nos quatro vitórias...
Sempre mais alto
Numa odisseia sem fim, João Garcia tem vindo a conquistar os picos mais altos do mundo. Agora, num ciclo entre montanhas acima dos 8.000 metros de altitude, o nosso alpinista-mor continua o seu caminho. Tem já oito “troféus” e quer chegar ao restrito grupo de 14 pessoas que conseguiram vencer os 14 cumes montanhosos mais imponentes. Neste roteiro, em Julho passado, chegou ao pico da segunda montanha mais alta do mundo, a K2, com 8.611 metros de altitude, na fronteira entre a China e o Paquistão. A última etapa durou 15 horas, sem o auxilio de oxigénio artificial e enfrentando uma morfologia do terreno muito hostil. Mas venceu-a.
A entrar nos quarenta anos, este português notável diverte-se a procurar ultrapassar-se todos os dias. Quem já o viu e ouviu, por exemplo em entrevistas na televisão, ficou, por certo, impressionado com a sua calma e serenidade. É como se não fosse nada. Mas chegar onde nunca tinha ido, transformar obstáculos em vitórias, tornar possível o impossível são alguns dos seus desígnios. Ele é a expressão vivida de um “sempre mais alto”.
É bom, no entanto, recordar que nesta carreira notável de João Garcia nem tudo tem sido rosas. Numa das escaladas, quando conquistou o Everest (8.848 m), via a sua vida em perigo, perdeu as pontas dos dedos e do nariz e o seu companheiro de escalada, Pascal Debrouwer, morreu na descida.
Muitos de nós interrogar-nos-emos sobre o sentido de vencer montanhas. Que acrescenta isso ao mundo? Os mais materialistas, de pés bem assentes na terra, perguntarão porquê gastar tempo e dinheiro com isto. Os mais medrosos, desdenharão da sua coragem, como é típico. Todos, pensaremos se é justo arriscar a vida nestas escaladas.
Independentemente das respostas que cada um, na sua circunstância, encontre, é óbvio que João Garcia devia ser uma referência nacional. Como ele, todos nós, temos as nossas montanhas para vencer e riscos próprios para correr. Á nossa escala, no nosso quotidiano, muitos são os obstáculos com que nos deparamos. Alguns, por mais impossível que pareça, são tão agrestes como os picos do Everest. Perante eles, precisamos de encontrar coragem para não lhes virar as costas e determinação para os vencer. Competir connosco próprios para alcançar os mais altos cumes deveria ser a nossa ambição. Por isso, como Garcia, precisamos ambicionar ir sempre mais alto, numa espiral de aperfeiçoamento, em busca dos objectivos que traçámos para a nossa vida. E perante as inevitáveis derrotas e humilhações, precisamos estar decididos a recomeçar. De novo, com a mesma fé da primeira vez e com a sabedoria do que já aprendemos no amargo das derrotas. Dessa forma, transformaremos as cicatrizes em alavanca para a vitória certa que nos espera. E, um dia, quando a etapa final chegar, que nos encontre a lutar para chegar sempre mais alto.
A entrar nos quarenta anos, este português notável diverte-se a procurar ultrapassar-se todos os dias. Quem já o viu e ouviu, por exemplo em entrevistas na televisão, ficou, por certo, impressionado com a sua calma e serenidade. É como se não fosse nada. Mas chegar onde nunca tinha ido, transformar obstáculos em vitórias, tornar possível o impossível são alguns dos seus desígnios. Ele é a expressão vivida de um “sempre mais alto”.
É bom, no entanto, recordar que nesta carreira notável de João Garcia nem tudo tem sido rosas. Numa das escaladas, quando conquistou o Everest (8.848 m), via a sua vida em perigo, perdeu as pontas dos dedos e do nariz e o seu companheiro de escalada, Pascal Debrouwer, morreu na descida.
Muitos de nós interrogar-nos-emos sobre o sentido de vencer montanhas. Que acrescenta isso ao mundo? Os mais materialistas, de pés bem assentes na terra, perguntarão porquê gastar tempo e dinheiro com isto. Os mais medrosos, desdenharão da sua coragem, como é típico. Todos, pensaremos se é justo arriscar a vida nestas escaladas.
Independentemente das respostas que cada um, na sua circunstância, encontre, é óbvio que João Garcia devia ser uma referência nacional. Como ele, todos nós, temos as nossas montanhas para vencer e riscos próprios para correr. Á nossa escala, no nosso quotidiano, muitos são os obstáculos com que nos deparamos. Alguns, por mais impossível que pareça, são tão agrestes como os picos do Everest. Perante eles, precisamos de encontrar coragem para não lhes virar as costas e determinação para os vencer. Competir connosco próprios para alcançar os mais altos cumes deveria ser a nossa ambição. Por isso, como Garcia, precisamos ambicionar ir sempre mais alto, numa espiral de aperfeiçoamento, em busca dos objectivos que traçámos para a nossa vida. E perante as inevitáveis derrotas e humilhações, precisamos estar decididos a recomeçar. De novo, com a mesma fé da primeira vez e com a sabedoria do que já aprendemos no amargo das derrotas. Dessa forma, transformaremos as cicatrizes em alavanca para a vitória certa que nos espera. E, um dia, quando a etapa final chegar, que nos encontre a lutar para chegar sempre mais alto.
Três Ases
Por alguma razão teremos nas canções de escárnio e maldizer um dos primeiros referenciais da nossa literatura. Desde sempre, a má-língua é o passatempo nacional preferido e o “cortar na casaca” figura como o melhor que somos capazes na costura social. Entre todos os alvos, na liderança de qualquer ranking de destinatários de eleição, estão os políticos.
Na boca de qualquer português que se preze está sempre pronta uma história, um impropério, uma chacota ou uma acusação dirigida a um político. A todos e a todo o tempo. Qual saco de boxe, sofrem todos os murros da nossa desconfiança. Neste contexto, entre as profissões mais consideradas, não espanta que a política surja em último lugar.
Não se nega aqui que existam maus exemplos. É verdade que pela política passaram tristes casos de corrupção, de incompetência, de demagogia ou de falta de sentido de serviço público. Mas será só na política que isso acontece? Serão os políticos portugueses piores do que a média dos outros portugueses? Ou, tal como em qualquer área, na política há um inevitável – ainda que inaceitável - coeficiente de incompetentes e de corruptos?
Proponho um exercício. Em que áreas Portugal dispõe, nos nossos dias, de vultos que se destaquem a nível mundial? No futebol, certamente, temos uma mão cheia de personalidades de nível planetário. No atletismo, temos dois campeões do mundo e mais alguns notáveis. Na literatura, teremos Saramago e pouco mais. Na ciência, Damásio é o único exemplo evidente. Empresários?
E na política? Há políticos portugueses reconhecidos internacionalmente?
Durão Barroso preside ao Conselho da União Europeia, António Guterres é o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados e, mais recentemente, Jorge Sampaio foi escolhido para uma relevante função no quadro das Nações Unidas, enquanto responsável da Aliança de Civilizações. Pois é...três ases, de nível superior, à escala global. Três políticos portugueses que, no cenário internacional, mereceram confiança de parceiros exigentes, em processos de selecção competitivos. Claro que alguns de imediato, desdenharão deste facto. Mas o que é certo é que fica a dúvida se não serão os políticos portugueses melhores que a média nacional nas restantes áreas.
Assim, talvez valesse a pena rever criticamente a nossa atitude “anti-políticos” tão arreigada, quanto irracional. O exercício da política é indispensável para a vida em sociedade. O serviço público e a defesa do bem comum são deveres essenciais que devem ser cumpridos através da política. Desincentivar a actividade política é suicida.
Devemos ser críticos e exigentes perante a política, sem dúvida. Tanto mais exigentes, quanto mais coerentes formos. Nomeadamente fazendo, através da participação política, melhor do que o que desdenhamos. Porque, na verdade, há uma outra categoria onde teremos certamente personalidades de nível internacional: na categoria de treinadores de bancada.
Na boca de qualquer português que se preze está sempre pronta uma história, um impropério, uma chacota ou uma acusação dirigida a um político. A todos e a todo o tempo. Qual saco de boxe, sofrem todos os murros da nossa desconfiança. Neste contexto, entre as profissões mais consideradas, não espanta que a política surja em último lugar.
Não se nega aqui que existam maus exemplos. É verdade que pela política passaram tristes casos de corrupção, de incompetência, de demagogia ou de falta de sentido de serviço público. Mas será só na política que isso acontece? Serão os políticos portugueses piores do que a média dos outros portugueses? Ou, tal como em qualquer área, na política há um inevitável – ainda que inaceitável - coeficiente de incompetentes e de corruptos?
Proponho um exercício. Em que áreas Portugal dispõe, nos nossos dias, de vultos que se destaquem a nível mundial? No futebol, certamente, temos uma mão cheia de personalidades de nível planetário. No atletismo, temos dois campeões do mundo e mais alguns notáveis. Na literatura, teremos Saramago e pouco mais. Na ciência, Damásio é o único exemplo evidente. Empresários?
E na política? Há políticos portugueses reconhecidos internacionalmente?
Durão Barroso preside ao Conselho da União Europeia, António Guterres é o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados e, mais recentemente, Jorge Sampaio foi escolhido para uma relevante função no quadro das Nações Unidas, enquanto responsável da Aliança de Civilizações. Pois é...três ases, de nível superior, à escala global. Três políticos portugueses que, no cenário internacional, mereceram confiança de parceiros exigentes, em processos de selecção competitivos. Claro que alguns de imediato, desdenharão deste facto. Mas o que é certo é que fica a dúvida se não serão os políticos portugueses melhores que a média nacional nas restantes áreas.
Assim, talvez valesse a pena rever criticamente a nossa atitude “anti-políticos” tão arreigada, quanto irracional. O exercício da política é indispensável para a vida em sociedade. O serviço público e a defesa do bem comum são deveres essenciais que devem ser cumpridos através da política. Desincentivar a actividade política é suicida.
Devemos ser críticos e exigentes perante a política, sem dúvida. Tanto mais exigentes, quanto mais coerentes formos. Nomeadamente fazendo, através da participação política, melhor do que o que desdenhamos. Porque, na verdade, há uma outra categoria onde teremos certamente personalidades de nível internacional: na categoria de treinadores de bancada.
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