02 outubro 2007

Três Ases

Por alguma razão teremos nas canções de escárnio e maldizer um dos primeiros referenciais da nossa literatura. Desde sempre, a má-língua é o passatempo nacional preferido e o “cortar na casaca” figura como o melhor que somos capazes na costura social. Entre todos os alvos, na liderança de qualquer ranking de destinatários de eleição, estão os políticos.

Na boca de qualquer português que se preze está sempre pronta uma história, um impropério, uma chacota ou uma acusação dirigida a um político. A todos e a todo o tempo. Qual saco de boxe, sofrem todos os murros da nossa desconfiança. Neste contexto, entre as profissões mais consideradas, não espanta que a política surja em último lugar.

Não se nega aqui que existam maus exemplos. É verdade que pela política passaram tristes casos de corrupção, de incompetência, de demagogia ou de falta de sentido de serviço público. Mas será só na política que isso acontece? Serão os políticos portugueses piores do que a média dos outros portugueses? Ou, tal como em qualquer área, na política há um inevitável – ainda que inaceitável - coeficiente de incompetentes e de corruptos?

Proponho um exercício. Em que áreas Portugal dispõe, nos nossos dias, de vultos que se destaquem a nível mundial? No futebol, certamente, temos uma mão cheia de personalidades de nível planetário. No atletismo, temos dois campeões do mundo e mais alguns notáveis. Na literatura, teremos Saramago e pouco mais. Na ciência, Damásio é o único exemplo evidente. Empresários?

E na política? Há políticos portugueses reconhecidos internacionalmente?

Durão Barroso preside ao Conselho da União Europeia, António Guterres é o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados e, mais recentemente, Jorge Sampaio foi escolhido para uma relevante função no quadro das Nações Unidas, enquanto responsável da Aliança de Civilizações. Pois é...três ases, de nível superior, à escala global. Três políticos portugueses que, no cenário internacional, mereceram confiança de parceiros exigentes, em processos de selecção competitivos. Claro que alguns de imediato, desdenharão deste facto. Mas o que é certo é que fica a dúvida se não serão os políticos portugueses melhores que a média nacional nas restantes áreas.

Assim, talvez valesse a pena rever criticamente a nossa atitude “anti-políticos” tão arreigada, quanto irracional. O exercício da política é indispensável para a vida em sociedade. O serviço público e a defesa do bem comum são deveres essenciais que devem ser cumpridos através da política. Desincentivar a actividade política é suicida.

Devemos ser críticos e exigentes perante a política, sem dúvida. Tanto mais exigentes, quanto mais coerentes formos. Nomeadamente fazendo, através da participação política, melhor do que o que desdenhamos. Porque, na verdade, há uma outra categoria onde teremos certamente personalidades de nível internacional: na categoria de treinadores de bancada.

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