Numa odisseia sem fim, João Garcia tem vindo a conquistar os picos mais altos do mundo. Agora, num ciclo entre montanhas acima dos 8.000 metros de altitude, o nosso alpinista-mor continua o seu caminho. Tem já oito “troféus” e quer chegar ao restrito grupo de 14 pessoas que conseguiram vencer os 14 cumes montanhosos mais imponentes. Neste roteiro, em Julho passado, chegou ao pico da segunda montanha mais alta do mundo, a K2, com 8.611 metros de altitude, na fronteira entre a China e o Paquistão. A última etapa durou 15 horas, sem o auxilio de oxigénio artificial e enfrentando uma morfologia do terreno muito hostil. Mas venceu-a.
A entrar nos quarenta anos, este português notável diverte-se a procurar ultrapassar-se todos os dias. Quem já o viu e ouviu, por exemplo em entrevistas na televisão, ficou, por certo, impressionado com a sua calma e serenidade. É como se não fosse nada. Mas chegar onde nunca tinha ido, transformar obstáculos em vitórias, tornar possível o impossível são alguns dos seus desígnios. Ele é a expressão vivida de um “sempre mais alto”.
É bom, no entanto, recordar que nesta carreira notável de João Garcia nem tudo tem sido rosas. Numa das escaladas, quando conquistou o Everest (8.848 m), via a sua vida em perigo, perdeu as pontas dos dedos e do nariz e o seu companheiro de escalada, Pascal Debrouwer, morreu na descida.
Muitos de nós interrogar-nos-emos sobre o sentido de vencer montanhas. Que acrescenta isso ao mundo? Os mais materialistas, de pés bem assentes na terra, perguntarão porquê gastar tempo e dinheiro com isto. Os mais medrosos, desdenharão da sua coragem, como é típico. Todos, pensaremos se é justo arriscar a vida nestas escaladas.
Independentemente das respostas que cada um, na sua circunstância, encontre, é óbvio que João Garcia devia ser uma referência nacional. Como ele, todos nós, temos as nossas montanhas para vencer e riscos próprios para correr. Á nossa escala, no nosso quotidiano, muitos são os obstáculos com que nos deparamos. Alguns, por mais impossível que pareça, são tão agrestes como os picos do Everest. Perante eles, precisamos de encontrar coragem para não lhes virar as costas e determinação para os vencer. Competir connosco próprios para alcançar os mais altos cumes deveria ser a nossa ambição. Por isso, como Garcia, precisamos ambicionar ir sempre mais alto, numa espiral de aperfeiçoamento, em busca dos objectivos que traçámos para a nossa vida. E perante as inevitáveis derrotas e humilhações, precisamos estar decididos a recomeçar. De novo, com a mesma fé da primeira vez e com a sabedoria do que já aprendemos no amargo das derrotas. Dessa forma, transformaremos as cicatrizes em alavanca para a vitória certa que nos espera. E, um dia, quando a etapa final chegar, que nos encontre a lutar para chegar sempre mais alto.
02 outubro 2007
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