Sempre tive um fascínio muito especial por Cabo-Verde e pelo seu povo. Gente de uma terra pobre, sem recursos naturais e com escassez de água, tem sabido encontrar, através da sua fibra e carácter, a força para se desenvolver. Apostando forte no seu capital humano, mostra, dentro e fora de portas, que não há impossíveis para quem tem determinação e sabe para onde quer ir.
Neste sentido, Cabo-Verde viu, há algum tempo, ser reconhecida a evolução positiva da sua situação socio-económica, de tal modo que iniciou um período de transição, deixando o grupo dos países menos avançados para integrar o dos países de desenvolvimento médio. Por outro lado, em Abril passado, no relatório do Banco Mundial, eram elogiados os seus resultados na educação, com melhorias no sucesso escolar, sendo um dos três melhores países africanos nesse domínio.
Na semana passada, surgiram mais duas evidências impressionantes. Dois rankings internacionais colocam Cabo Verde em lugares invejáveis no contexto africano. Por um lado, entre 48 países africanos, surge como o 4º melhor exemplo de boa governação, tendo subido dois lugares e ultrapassado mesmo a África do Sul. Neste índice da Fundação Ibrahim, só é superado pelas Maurícias e Seychelles. Por outro lado, ao nível da corrupção, medida pelo relatório da Transparência Internacional, entre 180 países, fica em 49º lugar, sendo entre os países africanos o terceiro com menor corrupção, depois do Botswana e da África do Sul.
Estas avaliações internacionais são da maior importância e têm relevante significado. Sendo naturalmente correlacionadas, a boa governação e a baixa corrupção, constituem condições necessárias para o combate à pobreza e para o desenvolvimento. Sem elas, torna-se manifestamente impossível melhorar a vida das populações. Toda a riqueza que existe – em recursos naturais ou gerada a partir do trabalho – esvai-se sem efeito útil. Enriquecem alguns, mas o povo desespera. Ora, Cabo-Verde tem mostrado que é possível fazer diferente. E isso é uma boa notícia para todo o continente africano.
Mas esta evolução notável não está isenta de ameaças. Os riscos da contaminação pelo tráfico de droga e de armas e do crescimento descontrolado em torno de uma indústria do turismo em explosão, constituem aspectos a ter em atenção pelas autoridades cabo-verdianas para que não se perca o que tanto custou a alcançar.
Neste contexto, o apoio que Portugal pode e deve continuar a dar a Cabo-Verde, reforçando o que tem vindo a ser feito, faz todo o sentido. Para além do apoio bilateral, o nosso empenhamento para que as negociações de Cabo-Verde com a União Europeia para a consagração de um estatuto de parceiro privilegiado, deve constituir uma prioridade.
Cabo-Verde é uma razão de esperança na viabilidade do progresso da humanidade e na autodeterminação dos povos. Com inteligência e com esforço, pelo seu pé e sabendo aproveitar bem as ajudas recebidas, tem feito um caminho que a todos ensina. Em África e fora dela.
02 outubro 2007
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