Por estas semanas, nos Estados Unidos da América (EUA), aceleram as primárias que permitirão aos dois maiores partidos – republicano e democrata – escolherem os seus candidatos para as presidenciais do próximo ano. Se entre os republicanos nada de interessante se passa, já no campo dos democratas assiste-se a uma luta inédita. Os dois candidatos melhor posicionados são Hillary Clinton e Barack Obama. Assim, os democratas apresentarão, pela primeira vez na história do seu país, uma mulher ou negro como alternativas para o mais alto cargo político dos EUA e, porventura, um dos mais importantes protagonistas mundiais. Caso um deles venha a ser o próximo presidente dos EUA o impacto simbólico não será pequeno e seria uma excelente notícia para o mundo.
Entre os dois, salienta-se contudo o senador Obama. Com 46 anos, este americano já revolucionou com a sua candidatura o panorama político americano. Licenciado em direito em Harvard, filho de uma americana e de um queniano, trabalhador social em bairros deprimidos de Chicago, surgiu como voz de uma política de esperança que tem levantado muitos apoios. Apesar das sondagens ainda lhe darem um segundo lugar atrás de Hillary, não se pode ignorar o eco que a sua mensagem tem tido nos americanos de todas as origens. Ao ler recentemente o seu livro “A audácia da esperança” pude perceber um pouco melhor o sucesso de Obama. E entusiasmar-me com ele.
Sem ser um candidato anti-sistema, o senador percebeu “a política pode ser diferente e que os eleitores querem qualquer coisa de diferente. Percebi que estão fartos de distorções, de ofensas pessoais, de sound-bites para resolver problemas complicados..” E esta a ensaiar a resposta a este desafio.
Creio que, do muito que o livro evidencia, a força da proposta que Barack Obama interpreta, resulta sobretudo da fusão entre uma forte preocupação de justiça e coesão social, com a defesa de valores de sempre. Assume, por isso, sem rodeios que “para promover a sociedade que desejamos precisamos tanto de transformação cultural quanto de acção governamental; de uma mudança de valores e de políticas” e que “é a linguagem dos valores que as pessoas usam para ordenar o seu mundo, é o que lhe põe servir de inspiração para fazer agir e fazê-las sair do seu isolamento”.
Para o nosso contexto europeu, avesso a centrar-se nos valores profundos enquanto eixo da acção política, ou sempre pronto a catalogar qualquer defesa de valores como atitude típica da “direita”, Obama representa uma voz inesperada, tanto mais porque é de “esquerda”. Acresce que defende valores a partir de uma perspectiva positiva, marcada pela audácia da esperança, traço comum que visualizou na esmagadora maioria dos americanos com que se foi encontrando. E é essa política da esperança que o levará longe, porque, como disse Luther King, “tudo o que é construído no mundo, é construído pela Esperança”.
Do outro lado do Atlântico, sopram ventos novos que nos devem inspirar.
01 janeiro 2008
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