04 janeiro 2008

Três desejos

Os ciclos do tempo têm esta impagável vantagem de permitirem uma sensação de renascimento. De começar de novo. De aspirar a que o amanhã possa ser diferente de ontem. De se ter deixado para trás tudo o que não presta. De pôr os contadores a zero.

Ainda que, em grande parte, não passe de ilusão de óptica, há que aproveitar a boleia. Cada um de nós saberá que metas colocar para si neste recomeço.

Para uns, sem ser demasiado ambicioso, usando uma estratégia de ‘pouco, pequeno e possível’, talvez se consiga alcançar algo. Para outros, só os grandes desafios os mobilizam suficientemente e nada menos do que o (quase) impossível é interessante. Para todos, o importante mesmo é concretizar essas metas, quaisquer que sejam, com toda a energia e convicção dos recomeços.

Colectivamente também precisamos desta nova oportunidade. Que desejos temos para o próximo ano? Que ambicionamos para o nosso destino comum, nos próximos meses? Pelo meu lado, atrevo-me a enunciar três desejos, tão simples quanto próximos da utopia. O primeiro desejo é que saibamos dizer mais vezes “o que é que posso fazer pelo meu país?” em vez de “alguém tem de fazer alguma coisa por este país!” Se formos consequentes com esta atitude, seremos mais participativos, mais exigentes e mais generosos. Deixaremos para trás uma atitude sebastiânica infantil que nos desresponsabiliza e perceberemos que a possibilidade de um futuro melhor está nas nossas mãos. Assim, cumprindo a nossa parte, poderemos fazer muito por um Portugal melhor.

O segundo desejo liga-se com o primeiro. Gostava que fossemos capazes de reforçar, em primeiro lugar, o que nos une, em vez de acentuar sempre o que nos divide. Somos um pequeno povo que já foi capaz de grandes feitos e... de grandes disparates. Mas se há uma no-ta comum, que já vem desde o tempo dos lusitanos, é que tendencialmente “não nos governamos nem nos deixamos governar”. Em grande medida isso resulta da permanente fractura interna em que vamos vivendo. Precisamos, ao invés, de reforçar a coesão nacional, porque há muito que se sabe que “a união faz a força”. O último desejo, e porventura o mais importante, é que viremos as costas à lamúria e ao pessimismo e saibamos reforçar a esperança e a confiança. Precisamos de contrariar o vaticínio de Unamuno e provar que não somos um povo de suicidas. Chega de discursos catastróficos e de vozes de mau agoiro. Basta de profecias da desgraça e de becos sem saída. Quanto maiores as dificuldades, mais urgente é a esperança.

Para os próximos meses precisamos de acreditar que, se fizermos por isso, o futuro pode ser melhor. Mas não desprezemos esta dimensão do ‘acreditar’. Muito à nossa maneira, só faremos alguma coisa por um futuro melhor se acreditarmos, se nos transcendermos, se ousarmos. Se não, mesmo que sejamos tecnicamente capazes e que até tenhamos os meios, não o faremos.

Boas intenções, dirão alguns. Sê-lo-ão, com certeza. Mas se não nos inspirarmos nelas, creio não iremos a lado nenhum. Bom ano!

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