Conclui-se hoje, na Fundação Gulbenkian, o Colóquio Internacional dedicado à Imigração que escolheu como ângulo de análise, a dicotomia “ameaça ou oportunidade” para reflectir sobre este fenómeno incontornável do nosso tempo.
Não restam dúvidas que a imigração, se legalmente regulada e socialmente integrada, representa uma oportunidade extraordinária, quer para os países de origem, quer para os países de acolhimento, quer sobretudo para os próprios migrantes. Estes, entre os quais se contam 4,5 milhões de portugueses, encontram na sua emigração uma oportunidade para mudar de vida, cortando as amarras à pobreza, ao desemprego e aos horizontes limitados. Labutando e sofrendo, comem do pão que o diabo amassou, mas mudam o seu destino e o das suas famílias. Ajudam que ficou para trás e abrem caminho para os seus sigam em frente. Oferecem-lhes um futuro onde nunca chegariam não fora a oportunidade da emigração.
Mas os países de acolhimento beneficiam igualmente deste fluxo migrante. Através da resposta que os imigrantes dão a postos de trabalho livres, que os nacionais não querem ou não podem ocupar, estes países têm a oportunidade, através da imigração, de manter as suas economias competitivas. A estas sociedades, os imigrantes somam-lhes empreendedorismo e subtraem-lhes preguiça. Dão-lhes diversidade e retiram-lhes velhice. Não é por acaso, que entre os países mais poderosos estão nações de migrantes, como os Estados Unidos, o Canadá ou a Austrália, ou outros países com uma longa tradição de acolhimento de imigrantes, como a Alemanha.
Finalmente, também os países de origem vêem nestes movimentos migratórios uma oportunidade de reduzir a pressão de desemprego e de gerar remessas futuras. Estas representaram para Portugal, no ano passado, cerca de 2.420 milhões de Euros.
Mas todas as realidades têm duas faces. Indiscutivelmente, as migrações podem constituir uma ameaça, nomeadamente à coesão social, se as partes envolvidas ignorarem as suas responsabilidades em termos de integração. Tanto sociedades de acolhimento, quanto cidadãos imigrantes, são responsáveis pela integração, num processo dinâmico, interactivo e de adaptação mútua. Se aos nacionais é pedido que reconheçam e respeitem todos os direitos de cidadania aos imigrantes, destes é esperado que assumam todas as responsabilidades de um cidadão. Quem acolhe um imigrante, responsabiliza-se por integrá-lo. Quem escolhe um país de destino, obriga-se a respeitá-lo.
O processo de integração deve ser, por isso, motivo de convergência de esforços de todos – nacionais e imigrantes – para que os riscos da exclusão social, do medo e da desconfiança não transformem a extraordinária oportunidade que imigração representa, numa sombria ameaça que ninguém deseja. E não podemos guardar para amanhã, essa responsabilidade de hoje.
Correio da Manhã, 7 Março 2007
01 abril 2007
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