Havia um dogma na Televisão em Portugal: em regime de concorrência, não era possível fazer programação de qualidade e com audiência. Qualquer aposta na qualidade, seria sempre condenada a um falhanço de audiência e audiências de sucesso significariam, invariavelmente, uma má qualidade. Esta predestinação limitava quer a ousadia dos profissionais, quer a inteligência do público. A opção para quem queria muitos telespectadores era só uma: tele-lixo. Era comum, então, dizer-se que o público tinha a televisão que merecia.
Mas algo mudou, nestes últimos anos, sob o impulso de decisores políticos clarividentes, em diferentes Governos. Passo a passo, com determinação e génio, a RTP 1 tem vindo a mostrar que, afinal, é possível. Com uma programação inteligente e com bom-gosto, sem pretensiosismos bacocos, nem cedências gratuitas, o canal público tem mostrado o caminho. Soube evitar armadilha de confundir qualidade com snobismo ou seriedade com cinzentismo. Subtraíram a definição de “qualidade” do domínio dos intelectuais e tornaram-na popular. Com os Gatos, mas também com Dança Comigo; com a ficção portuguesa clássica, mas também com a Contra-Informação. E os resultados apareceram.
Neste roteiro está também uma informação credível, onde com o seu principal produto – o Telejornal - é líder de mercado. O risco de promover um grande debate semanal – Prós e Contras - e de colocar as Grandes Entrevistas em horário nobre foi recompensado pelo público. Este também continua a apreciar os momentos de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Vitorino, dois dos mais brilhantes comunicadores do nosso espectro mediático. As críticas quanto a independência (ou falta dela) da informação não colhem, apesar de, aqui e além, poderem ser discutíveis os critérios editoriais. Mas, onde não o são?
É evidente que isto não significa que tenha atingido a perfeição. Longe disso. Aliás, é bom que os líderes desta revolução tranquila - seja a Administração da RTP, sejam Luís Marinho e Nuno Santos - não se deixem adormecer por estes sucessos. É importante que, no caminho trilhado, se vá mais longe. Sem quebras, nem hesitações. Porque se é possível fazer televisão com qualidade que os espectadores vêem, então há a obrigação de a fazer. Já não há desculpas. É possível.
Correio da Manhã, 14 Março 2007
01 abril 2007
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