Desta forma – “Pela Europa” - quis Robert Schuman, um dos pais fundadores da União Europeia, definir a sua vocação determinada ao serviço de um novo futuro para os europeus, acabados de sair da IIª Guerra Mundial. Dessa semente, nasceram cinquenta anos de paz e de incomparável desenvolvimento económicos para os países membros. A poucos dias do início da presidência portuguesa da União Europeia, importa reafirmar essa determinação. Queremos continuar a lutar “pela Europa”. O nosso destino comum depende, porém, de sermos capazes de ultrapassar a crise e o cepticismo que se instalaram nos últimos anos, nomeadamente com o bloqueio a um novo modelo de organização da União.
Pelas voltas do destino, vai cair em plena presidência portuguesa o momento crucial da redacção e aprovação de um novo Tratado constitucional, depois do falhanço do anterior. Esse processo poderá constituir um momento histórico de relançamento do projecto europeu. Se contar com o empenhamento de todos os países membros, Portugal poderá desempenhar uma função catalizadora desse processo e abrir um novo horizonte de esperança. Essa função de negociação e de formulação de consensos vai exigir muito dos nossos governantes envolvidos nessa tarefa, mas pode constituir um notável serviço à causa europeia.
Mas esta Presidência não será exclusivamente marcada pela questão do Tratado. Já na próxima semana, pela primeira vez, vai realizar-se uma cimeira União Europeia/Brasil. Esta relação com um dos países em ascensão à escala global e com um papel central na América Latina, representa não só o cumprimento de uma estratégia de alargamento e reforço das relações externas da União Europeia, mas também o reforço da posição de Portugal no contexto europeu. Naturalmente, Portugal será, do lado da UE, a ponte privilegiada – mas não exclusiva – com o Brasil. Há que estar à altura.
Finalmente, nos grandes desafios para a presidência portuguesa da EU, sublinham-se outras duas cimeiras: com os países do Mediterrâneo (EUROMED) e com os países africanos (UE/África). No contexto do Mediterrâneo, joga-se uma das fronteiras essenciais do designado “choque de civilizações”, com o mundo islâmico. A cooperação entre a margem norte e a margem sul é essencial para contrariar a radicalização e o desenvolvimento de condições favoráveis para os jihadistas. Por outro lado, em relação a todo o continente africano, destaca-se como principal desafio o combate à pobreza e ao sub-desenvolvimento. Nesses processos, não podemos esquecer que a diferença de rendimento entre as duas margens do Mediterrâneo é de 1 para 15, e com os restantes países africanos de 1 para 30. O apoio ao desenvolvimento sustentável e à repartição de riqueza são resultados essenciais a saírem destas cimeiras. Por Portugal, nos próximos seis meses, vão passar as grandes discussões sobre o futuro não só da Europa, de uma larga faixa da humanidade. Queira Deus que seja um tempo de nova esperança.
Correio da Manhã, 27 Junho 2007
23 julho 2007
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