23 julho 2007

Um voto útil

Os eleitores são cada vez menos fiéis ao voto no mesmo partido. Oscilam entre várias opções, consoante o líder que as protagoniza, a equipa que o acompanha e as principais ideias que defende. É um sinal dos tempos e, a meu ver, espelha uma atitude inteligente, que privilegia a liberdade de voto, escolhendo o que em cada momento parece ser a melhor solução, em detrimento de uma pré-determinação do voto, independentemente do candidato, da equipa e do programa.

Quando se aproxima uma eleição, como acontece agora com as intercalares para a Câmara de Lisboa, muitos eleitores entram neste processo. Qualquer que tenha sido a sua opção anterior, no que se refere ao partido que mereceu o voto nas últimas eleições, tudo volta a estar em aberto.

Deixando de lado as emoções, pensando exclusivamente em termos racionais, quais são, na minha perspectiva, as duas perguntas essenciais nesse processo de escolha? Primeiro, qual o candidato que, na sua vida política anterior, deu mais provas de capacidade de liderança, com determinação e inteligência, para enfrentar situações críticas, como a que vive Lisboa? Segundo, qual é a equipa mais consistente e com mais condições de se centrar nos problemas da cidade e de lhes responder com eficácia, apresentando para tal um programa credível?

Em Lisboa, a escolha é alargada. E, felizmente, com várias opções credíveis. Mas, na minha perspectiva, a escolha mais sensata só pode ser António Costa e a sua equipa. Indiscutivelmente é um político inteligente, determinado e com um perfil de liderança. Foi capaz de, em etapas anteriores, mostrar energia e espírito reformista, afrontando interesses e dificuldades de monta. É sério e tem ideias claras, não temendo decidir e executar as políticas que lhe parecem ser as mais adequadas. É um bom líder para Lisboa. Acresce que a equipa que escolheu é de muito boa qualidade. Rompendo as lógicas “aparelhisticas” redutoras, trouxe novos nomes, com credibilidade e experiência em vários sectores, que inspiram confiança.

O último elemento a considerar nesta escolha é a situação de emergência em que se encontra a Câmara Municipal de Lisboa. Em ruptura financeira e em crise anímica, Lisboa precisa de uma liderança forte. Ora, em virtude de uma bizarria do sistema eleitoral autárquico, quem ganha as eleições, pode não ter condições para governar a cidade. Pode ficar em minoria no executivo municipal e ficar na contingência dos acordos pós-eleitorais e das dificuldades que estes encerram.

Por isso, neste contexto, o voto de cada lisboeta deve ter em conta este factor. Deve ser um voto útil à boa governação da cidade. Assim, António Costa deve ganhar, com maioria absoluta, concentrando nele os votos de quem quer que Lisboa saia da crise. Se lhe foram dadas essas condições, daqui a dois anos cá estaremos para avaliar a sua governação da cidade. E voltar a escolher livremente o que então parecer melhor para a cidade.

Correio da Manhã, 20 Junho 2007

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