23 julho 2007

Respeito

Há dois anos, assistindo a uma cerimónia oficial no Canadá, registei a solenidade com que a assistência de uma conferência internacional se levantava para receber o mais alto representante da nação. Não raras vezes vi repetido este gesto de respeito institucional em diferentes países, perante diversos órgãos de soberania. Excepto, por regra, em Portugal. Na mesma conferência internacional, aquando da sua realização no nosso país, toda a gente permaneceu sentada, perante a entrada do Primeiro-ministro na sala. Vi já, repetidas vezes, em visitas de altos responsáveis do Estado a uma qualquer instituição, os funcionários permanecerem sentados enquanto são cumprimentos pelo visitante. Pior ainda, naturalmente, quando se vão registando insultos ou enxovalhos a um Presidente da República ou Primeiro-ministro, em nome de uma suposta liberdade de expressão. Não se trata, note-se, de uma questão antiquada de “boa-educação”, embora também o seja. É muito mais do que isso. Trata-se do valor que atribuímos às instituições e ao respeito por quem é por elas representado, ou seja, por todos nós.

A dessacralização do poder que se desenvolveu em Portugal após o 25 de Abril teve, certamente, os seus méritos. A aproximação das instituições ao povo, e vice-versa, favorece a democracia. O afastamento do temor reverencial ajuda à participação e coloca-nos num patamar de igualdade cívica. Mas isso não significa – longe disso – a destruição do respeito institucional.

As instituições do Estado – entre outras - merecem todo o respeito. Particularmente os órgãos de soberania, enquanto legítimos representantes do povo, são detentores de uma dignidade que deve ser preservada. Não se trata simplesmente do senhor A ou da senhora B, que por si só já mereceriam o respeito devido a qualquer pessoa, mas sim de quem, representando o Estado, nos representa a todos nós. Isto, não equivale, porém, à ausência de crítica. Pelo contrário: quanto mais respeitadores, mais exigentes para com os detentores de cargos públicos.

É evidente, por exemplo, que esta exigência de respeito institucional não se aplica exclusivamente aos cidadãos anónimos. A responsabilidade de evidenciar respeito pelas instituições começa, desde logo, nos seus próprios protagonistas. Por exemplo, o triste espectáculo que alguns deputados dão ao desrespeitarem completamente, em pleno hemiciclo, quem está no uso da palavra, conversando animadamente com os seus vizinhos ou lançando impropérios, não contribui para o prestígio da instituição. Não se pode pedir respeito por quem não se respeita.

Este respeito, no que se refere aos símbolos nacionais, teve, nos últimos anos, um grande avanço, curiosamente, através do futebol. Hoje em dia ninguém canta sentado o hino nacional, num qualquer estádio. Pelo contrário, de pé, vibramos com esse momento de sintonia colectiva. Será muito difícil estender essa atitude às instituições que nos representam?

Correio da Manhã, 10 Julho 2007

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