Timor-Leste escolhe hoje o seu segundo Presidente da República. Depois de um ciclo que se encerra com muitas nuvens negras a pairar no horizonte, reflectindo meses de crise grave no primeiro país do século XXI, a esperança num novo tempo marca a expectativa dos mais optimistas.
A epopeia bem sucedida da sua libertação fez crer a alguns que Timor seria sempre uma uma história de sucesso. A concretização da última utopia do século passado, libertando um pequeno David das garras de um feroz Golias, assumia-se como garantia que todas as dificuldades nunca seriam suficientemente grandes para que não fossem ultrapassadas pela mesma vontade desse povo heróico. Ora essa expectativa foi ingénua e a realidade, com culpa de todos os protagonistas, tornou-se um pesadelo.
O fim da ocupação e do inimigo externo diluiu solidariedades internas. Enquanto na luta contra a Indonésia, todos se uniam - mesmo que se odiassem – agora, independentes e em democracia, as divisões vêm ao de cima. E, nestas circunstâncias, há muitas vezes a tentação política de substituir o inimigo externo por inimigos internos, para agregar novas solidariedades. Foi o que aconteceu, nomeadamente com a artificial divisão entre lorosaes e lorumonus, separando os timorenses conforme a sua origem do leste ou do oeste do país. A este processo não serão alheios interesses externos que, não sendo os únicos culpados, não deixam de ser preponderantes nestes desenvolvimentos. A definição das fronteiras marítimas de Timor, ainda em discussão e, com elas, o direito a estes recursos, não será estranha a esta crise. O petróleo e o gás natural nunca foram boa notícia para países frágeis.
Mas não devem os timorenses procurar fora desculpa para todos os erros. Não fora os erros políticos cometidos e nenhuma manobra de destabilização poderia ter sucesso. Resulta evidente, para quem conhece Timor, que o principal erro dos últimos anos decorre dum modelo de desenvolvimento que não assentou num efectivo combate à pobreza. A persistência de níveis de desemprego elevadíssimos, nomeadamente entre os jovens, a ausência de investimentos essenciais numa nova rede de infra-estruturas e a incapacidade de colocar a economia a funcionar foram os principais falhanços do poder timorense, protagonizado pela Fretilin. E todos os manuais de política são unânimes no resultado desse alinhamento que dá sempre turbulência, revolta e revolução. Para não fugir à regra, Timor comprovou que desemprego persistente mais pobreza aguda é sempre igual a convulsão social.
Com as eleições presidenciais e legislativas deste ano, Timor-Leste procura um recomeço que permita sarar as feridas recentes e abrir um horizonte de esperança. Só a vitória de Ramos Horta pode garantir as condições para que se comece de novo. Com a esperança de ter aprendido com os erros cometidos.
Correio da Manhã, 9 Maio 2007
23 julho 2007
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